Depois do mercado ter envolvido os diversos campos da atividade humana (política, guerra, drogas, comércio, arte, sexualidade, ecologia, biotecnologia), chegou também à religião. Deus foi posto no mercado. Tornou-se um bem de consumo, de compra e venda. Diante disso, faz-se necessário recordar o que Jesus disse: “Vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro” (Mt 6,24).
A RELIGIÃO tornou-se terapia como meio de superar os riscos que a sociedade consumista e competitiva nos impõe. Deus voltou a servir de quebra-galhos, tapa-buracos, pronto-socorro. Algumas igrejas passam a ser usadas, com objetivos de resultados: milagres, consolo, terapia, curas, promessas de casas, carros… Daí o crescimento delas. No deus-mercado se encontra a salvação para todos os problemas pessoais, familiares e econômicos.
URGE denunciá-las, como fez Jesus, com a estrutura idolátrica de seu tempo, concentrada precisamente no templo, usado como meio de enriquecimento pessoal. É preciso denunciar a fundamentação religiosa desse deus-mercado, para que os fiéis saibam a quem estão se entregando, quem é que lhes está sugando a fé do espírito e o sangue do corpo. Há igrejas que são verdadeiras empresas, fundadas na teologia da prosperidade, justificadoras de uma religião excludente, servidoras do mercado.
A REAÇÃO ao deus-mercado é a partilha, sobretudo, dos bens materiais, ainda que poucos. Portanto, é necessário viver a partilha evangélica. Continua valendo hoje, mais que nos primeiros séculos do cristianismo, a pergunta de São Barnabé: por que é tão fácil pôr em comum os bens espirituais, que são de valor eterno, e é tão difícil pôr em comum os bens materiais, que são passageiros? Outro modo de enfrentar essas igrejas mercantilistas é o dízimo, como contribuição para a comunidade, a qual poderia criar mecanismos de apoio aos necessitados.
URGE voltar ao valor da Religião como pertença a uma comunidade. Religião como capacidade de opção por valores, compromisso com os outros e com a Ética. Para isso é preciso tirar a Religião do braço do mercado. A solução não está em entrar no jogo do mercado. É preciso sair do jogo do mercado, para pregar e testemunhar a Palavra de Deus, é o Cristo crucificado e Ressuscitado!
+ Itamar Vian
Arcebispo Emérito
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