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Malvina Tânia Tuttman, reitora da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio), foi nomeada nesta terça-feira presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais. Tem ao menos duas missões: recuperar a imagem de inépcia do Inep na gerência do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e manter-se no cargo por mais tempo do que seus antecessores. Tuttman é a sétima presidente da autarquia ligada ao Ministério de Educação (MEC) em pouco mais de oito anos.
Joaquim José Soares Neto, o chefão anterior do Inep, assumiu o posto em dezembro de 2009, em substituição a Reynaldo Fernandes, que caiu por conta do vazamento da prova do Enem antes de sua realização. Soares Neto, por sua vez, alega que a saída não se deve à grande trapalhada da sua gestão – o erro na impressão de provas –, mas provavelmente esta será a marca que ficará. Além disso, deixa o barco no momento em que estudantes que realizaram a última e conturbada avaliação reclamam que, indevidamente, ganharam zero na redação – por ora, apenas uma queixa de maus alunos. Entre 2002 e 2008, sucederam-se no cargo João Batista Gomes Neto, Otaviano Helene, Raimundo Luiz Silva Araujo e Eliezer Moreira Pacheco. Alguns sentaram-se na cadeira por apenas sete meses.
"A troca sucessiva na presidência de qualquer órgão é prejudicial: cria instabilidades em toda a equipe e dificulta o desenvolvimento de projetos de longo prazo", afirma Maria Helena Guimarães, que presidiu a instituição entre 1997 e 2002. "O Inep não é apenas um órgão executivo, é um instituto de estudos e pesquisas. Isso torna as trocas ainda mais delicadas."
Outra ex-líder da autarquia dá pistas para os problemas enfrentados hoje. E também para as pedras no caminho de seus presidentes. "Desde a década de 1990, o Inep ganhou proporções e obrigações inéditas. Com a quantidade de provas e estudos que realiza, tem a tendência de engolir seus líderes", diz Pedro Demo, que chefiou o Inep no fim da década de 1980.
Nem tudo são danças de cadeiras e confusão em matéria de educação federal. A conhecida Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) tem um histórico oposto. Jorge Alemida Guimarães, seu presidente, ocupa o cargo desde 2004, não deve deixar a instituição neste ano, já que acaba de ser reconduzido ao cargo pelo ministro Fernando Haddad, e também não costuma ser motivo de críticas de especialistas e estudantes. "É possível notar a continuidade na gestão dentro da Capes", diz Maria Helena.
Sorte a Tuttman – Continuidade na dia a dia do Inep é o que pedem os especialistas. "É indispensável que a nova gestão traga projetos de longo prazo para que a instituição se fortaleça em meio à intabilidade", diz Maria Helena. Para Pedro Demo, a nova presidente "precisa colocar ordem na casa e analisar com muita atenção os problemas que derrubaram as gestões anteriores".
O problema, concordam, responde principalmente pelo nome de Enem. Desde que foi reformulado, em 2009, o exame se tornou passaporte para universidades públicas de todo o país. Em 2009, a prova foi furtada da gráfica e o exame foi suspenso dias antes de sua aplicação. No ano passado, um lote de 21.000 exames apresentou erro de impressão e o cartão de resposta estava invertido. O caso migrou das páginas de educação para as de polícia. A Justiça interveio, e o exame prosseguiu válido.
É consenso que controlar uma avaliação dessas dimensões não é tarefa fácil – nem por isso, falhas são admissíveis. Em jogo, estão o preenchimento de mais de 83.000 vagas em 83 instituições públicas de ensino superior e, é claro, a vida dos 4,5 milhões de candidatos envolvidos no processo.
"Coordenar e fazer esta engrenagem andar requerem muito trabalho", diz Pedro Demo. O MEC já sinalzou que está preparando alterações no modelo. Resta saber quem estará sentado na cadeira no Inep para levar tal tarefa adiante.( As informações são do Veja)