Tumulto

Sem água e sem luz, professores mantém ocupação no prédio da prefeitura

O protesto é para cobrar o pagamento do precatório.

Daniela Cardoso

Um grupo com cerca de 17 professores estão em vigília na prefeitura municipal de Feira de Santana, em protesto para cobrar o pagamento do precatório. Desde a manhã desta terça (25) que os professores estão em manifestação e paralisaram as atividades por 24 horas. Esse grupo resolveu não sair da prefeitura e de acordo com outros professores que retornaram ao local para levar comida, o grupo está no prédio sem energia elétrica.

“Acho que eles podem até sair, mas se é nossa reivindicação, não é o que queremos. Eles estão sem banheiro, sem energia, sem beber água. A gente trouxe café, comida e vamos ficar aqui até o prefeito conversar com a gente”, afirmou a professora Diana Fernandes, que está do lado de fora do prédio, junto com outros professores.

Ela destacou que o precatório é uma verba que é de direito da educação, sendo 60% para professores e 40% para usar na educação de qualquer forma. Segundo Diana, o dinheiro já está depositado na conta do município, porém bloqueado devido a uma ação da categoria.

Foto: Enviada via WhatsApp

“Viemos desde o final da tarde para que o prefeito Colbert Martins da Silva conversasse e ele não deu posição nenhuma. Um grupo de professores resolveu ficar na prefeitura fazendo a vigília, mas a gente não contava que iam tirar os direitos básicos deles”, afirmou.

A professora Maria de Fátima Costa é aposentada e disse que foi ao local quando ficou sabendo o que estava acontecendo. “Fiquei sabendo desse absurdo e vim trazer comida para os colegas”, disse. “Estou solidária com as colegas. Já sou aposentada. Fui a primeira que cheguei aqui e não temos apoio nenhum. O deputado Zé Neto veio, falou e depois foi embora, nada foi resolvido, então vamos ficar enquanto der”, completou outra professora. 

No final da tarde de hoje, a prefeitura divulgou uma nota informando que o Tribunal de Contas da União não permite o repasse dos 150 milhões de reais dos precatórios para professores. Confira a nota na íntegra:

A Secretaria de Educação da Prefeitura de Feira de Santana presta esclarecimentos, aos pais dos alunos da rede municipal de ensino, e à comunidade, sobre a questão dos precatórios do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (Fundef). O assunto volta à tona nesta terça (25), quando os professores da rede municipal fazem uma paralisação de 24 horas, reclamando repasse, para ser distribuído com a categoria, de cerca de R$ 150 milhões.

Segundo a prefeitura, municípios brasileiros encontram-se impedidos de efetuar qualquer pagamento a professores com recursos dos precatórios, conforme expressa o Tribunal de Contas da União (TCU), em acórdão de número 1962/2017. Órgão federal responsável pela fiscalização da aplicação da verba, o TCU determina: “estão devidamente claras as razões pelas quais não deve ser observada a subvinculação do percentual de 60% (sessenta por cento) para fins de remuneração dos professores, e delas não se extrai qualquer contradição com as demais razões de decidir adotadas pelo Acórdão embargado”.

Em parecer, o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) reforça a a tese do TCU: “Não se afigura, pois, coerente que, contrariando a legislação de regência e as metas e estratégias previstas no PNE, 60% de um montante exorbitante, que poderia ser destinado à melhoria do sistema de ensino no âmbito de uma determinada municipalidade, seja retido para favorecimento de determinados profissionais”. Para o FNDE, a destinação de tal volume de recursos aos profissionais do magistério, no caso das verbas de precatórios, “configuraria favorecimento pessoal momentâneo, não valorização abrangente e continuada da categoria”.

Em Feira de Santana, a APLB ingressou com ação judicial pedindo o bloqueio de 60% dos recursos do Fundef na conta da Prefeitura – percentual que a entidade defende seja repassado aos professores e demais trabalhadores da educação. No entanto, de acordo com a prefeitura, a medida foi rejeitada pela Vara da Fazenda Pública e também pelo Tribunal de Justiça da Bahia, a quem a entidade recorreu.

Nesta terça-feira, enquanto grande número de prefeituras ainda nem sabe como pagar a folha do mês de setembro, em todo o país em Feira de Santana o funcionalismo – incluindo os professores e demais profissionais da educação – já está com o salário em conta, podendo planejar o seu orçamento.

A secretária de Educação, Jayana Ribeiro, lamenta a paralisação das aulas: “estamos cumprindo com todas as nossas obrigações com os professores e esperamos que eles cumpram com o seu dever, de dar aula. As crianças não podem ser prejudicadas por motivações que não se justificam. Foge à nossa competência e poder de decisão, repassar 150 milhões de reais da educação para a categoria”.

Jayana observa que professores da rede privada não recebem salários superiores aos seus colegas da rede municipal. No entanto, não se ouve falar em greve nas escolas particulares. A paralisação, de acordo com ele, é algo que prejudica enormemente a milhares de crianças. A secretário informou que será cortado o ponto dos professores que não tenham comparecido ao trabalho no dia de hoje.

Com informações e fotos do repórter Ed Santos do Acorda Cidade

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