Acorda Cidade
A emoção se fez presente desde os primeiros minutos. Com lágrimas nos olhos, Washington chegou acompanhado de Alcides Antunes, vice de futebol, e Celso Barros, presidente do patrocinador, sentou no centro da mesa localizada na sala improvisada no hotel onde o Fluminense faz pré-temporada, em Mangaratiba, e com lenço e microfone nas mãos anunciou:
– As coisas foram um pouco antecipadas, a notícia saiu antes. E…(pausa emocionada) quero comunicar a todos que estou deixando o futebol. É difícil dizer. É uma decisão que tomamos em conjunto. Foi difícil. Estava me preparando para jogar mais esse ano, mas conversamos nesses últimos dois dias, repensamos e decidi realmente parar. É um momento difícil demais, é uma coisa que mexe com a gente, mas um dia ia parar. Um dia a profissão acaba e é importante ter hombridade e humildade para saber que nada vai apagar o que dei ao futebol e o que o futebol deu para mim.
Entre lágrimas, o atacante de 35 anos agradeceu a todos que fizeram parte dos seus 17 de carreira como jogador profissional e desabou novamente em emoção.
– Realizei o sonho de ser jogador de futebol. Dentro deste sonho conquistei título, amigos… É duro dizer alguma coisa neste momento. Quero agradecer a Deus, minha família, amigos, companheiros, treinadores, clubes onde marquei minha história. Desculpem a emoção, é até meio chato, mas não agüento. Só quero agradecer.
Também muito emocionado, o vice-presidente de futebol, Alcides Antunes, tomou a palavra e agradece ao Coração Valente.
– Só temos a agradecer ao Washington. Conversamos, ele tomou a decisão e esperamos ter o Washington conosco. O casamento não foi desfeito. Ele é uma grande pessoa e continuará por muito tempo no futebol. Só podemos agradecer por tudo que fez pelo Fluminense e desejo toda sorte daqui em diante.
Médico e presidente da patrocinadora do clube, Celso Barros foi outro a falar sobre o caso de Washington. Ele confirmou que houve um novo problema médico, no caso, a hiperglicemia, que resultou na conversa e na decisão do atacante.
– É um momento complicado na vida do profissional. Mas conversamos, analisamos várias situações que existem e todos têm conhecimento para tomarmos essa decisão. Tenho um carinho enorme pelo Washington, que foi um cara fundamental na conquista do Brasileiro. Ele fez oito gols quando o Fred se machucou, depois participou da jogada do gol do título. Certamente ele para de jogar futebol e vai estar ao nosso lado. Hoje temos a tristeza do momento, mas a melhor decisão para ele é em relação à saúde e à vida.
Como se não bastasse a emoção da aposentadoria, a coletiva foi recheada de surpresas para Washington. Além da esposa, que o acompanhou em todo o momento, o Coração Valente foi surpreendido pela chegada de surpresa das filhas Ana Carolina, de 8 anos, e Catarina, de 3, que interromperam a entrevista para darem um beijo no pai. A irmã, o pai e a sobrinha também deixaram as férias em Aracaju para prestigiar o agora ex-jogador.
Próximo do fim da entrevista, foi a vez de os jogadores invadirem a sala para uma despedida. Marquinho, Leandro Euzébio, Tartá, Ricardo Berna e Rafael abraçaram o “Xitão”. O capitão pegou o microfone e disse:
– Como capitão, só tenho que agradecer por tudo que você fez. Pela passagem em 2008, pelo ano passado em que foi importante. Além de admirador do seu futebol desde a época de Ponte, Atlético-PR… Como pessoa, você é exemplo. Está guardado no nosso coração, na torcida tricolor. Está saindo do futebol, mas esperamos que não deixe o Fluminense nunca.
Washington revelou que pretende seguir ligado ao futebol, mas que vai se dedicar aos estudos e família nos próximos meses. O atacante, que aposenta como maior artilheiro de uma edição do Brasileirão, 34 gols em 2004, recebeu ainda o convite para ser o embaixador do Flu na Libertadores e aceitou de imediato.
Confira toda a entrevista de despedida de Washington
Problemas de saúde
"Quero deixar claro que não estou deixando o futebol por problemas de saúde. Fiz os exames com o doutor Constantino em dezembro e eu estava liberado por ele para jogar. Como ainda estou. Claro que tenho os problemas que devem ser administrados. A decisão da parada foi nossa. Pensamos que estava bom. Não seria um ano que faria a diferença na minha vida. Tenho outros projetos para o futuro. Tenho que respeitar. Já estou chegando aos 36 anos e de repente não vale a pena o esforço. Vou curtir a vida e criar minhas filhas".
Lembranças da carreira
"O filmezinho começa a passar. Desde a saída de Brasília, passando pelo Caxias, por clubes importantes fora do país, aqui dentro, o retorno ao futebol após praticamente encerrar a carreira. Agradeço ao Doutor Constantini, que comprou a briga e me deixou em condição de voltar ao futebol. Essa última parte da minha história foi por Deus e porque ele existiu na minha vida. Lembro esses momentos importantes e inesquecíveis. Pude marcar minha história no futebol".
Exemplo de vida
"Um dos meus maiores orgulhos é saber que fui exemplo de vida para algumas pessoas. Que seja uma, mas que dei o exemplo. Muitos mandam mensagem e dizem que o que fiz fez com que a pessoa superasse o problema. Esse é o maior legado que levo".
Libertadores
"Todos me falam isso, que eu podia ficar um pouco mais para essa Libertadores importante. Mas isso não mudaria muita coisa na minha vida como a decisão que estou tendo agora. Isso pode mudar. Fico triste, mas vou seguir torcendo pelo Fluminense de alguma forma".
O que faltou?
"Não me faltou nada. Fica a sensação de ter perdido aquela Libertadores. Mas não faltou nada. Nunca vi na minha vida uma festa tão linda como a torcida do Fluminense naquela competição. Resgatamos o carinho, o amor, a paixão da torcida. Dizem que perdemos a competição, mas, não, ganhamos uma grande torcida. Só agradeço por tudo que consegui no futebol".
Jogo de despedida no Carioca
"Eu gostaria, mas não sei. Depende do Alcides, do Muricy, do futebol do Fluminense. Claro que gostaria de me apresentar novamente para a torcida, fazer uma grande despedida. Vamos amadurecer alguma coisa. Não gostaria de sair sem ao menos dar um tchau".
Torcida do Flu
"É difícil dizer alguma coisa. Só posso agradecer toda torcida do Fluminense. Recebi carinho de muita gente, até de clubes em que não joguei. Mas aqui me senti em casa, consegui dar uma grande alegria e só posso dizer: 'Obrigado, torcida tricolor'".
Futuro
"Estou começando a me especializar, a estudar, para dar algo ao futebol sem ser dentro de campo. Vou curtir um pouco mais, estarei mais próximos das minhas filhas e vou procurar trabalhar para ajudar o futebol".
Despedida do elenco
"É até difícil olhar para eles. São amigos, companheiros, e não vou aguentar. Vou chorar muito. Sei que cada um tem uma palavra de conforto, de força, e só vou ter boas lembranças com eles".
Carreira de treinador
"Não estou preparado ainda para administrar ou treinar. Tenho mais jeito para empresariar. Vejo o Muricy aí sofrendo para caramba".
Jogar mais um ano em outro clube
"Não me vejo vestindo a camisa de outra equipe que não seja o Fluminense. Nesse momento da carreira, se não fosse aqui, não seria em lugar nenhum". ( As informações são do Globo Esporte)