Dia Internacional da Mulher

Sobre o 8 de Março, as mulheres e o medo da violência

Precisamos falar que a cada hora no Brasil, mais de 500 mulheres são vítimas de violência. O tempo corre e temos pressa. Queremos permanecer vivas.

Rachel Pinto

No dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher, são muitas as comemorações exaltando o papel da mulher na sociedade, a luta pela conquista de direitos e, como sempre, o momento de chamar ainda mais a atenção sobre os casos de violência contra a mulher.

Neste dia, ‘bombam’ as homenagens e as frases feitas para as mulheres. Notícias sobre mulheres de sucesso, histórias de superação, sobre o universo feminino ganham as manchetes de jornais.

O dia é inteiro de pautas para os jornalistas, sociedade civil, poder público e os movimentos sociais. Muitos eventos, muitas ações e muitas mulheres interagindo, trocando experiências, conhecendo mais sobre as suas vidas e as vidas umas das outras. Mulheres que têm pontos em comum, sobretudo em relação ao que é ser mulher e ter o direito de ir e vir na sociedade.

Conseguimos a liberdade de expressão, o direito ao voto, e tantas outras conquistas, temos muito orgulho do nosso gênero, de quem somos, mas temos também o medo de ser mulher.

Tenho medo não de ser quem sou, mas tenho medo do meu sexo (sou feliz em ser mulher, ter minha identidade…Mas, confesso que ter uma genitália por vezes me assusta, no sentido de que o sexo fálico pode ser violento e desrespeitoso comigo). Medo de sair e o pior acontecer apenas pelo fato de que sou mulher. Medo de andar só, pegar carona, andar de táxi, de ônibus, de carro de aplicativo… Medo de andar por ruas escuras, de ficar na rua até mais tarde e ter que ficar só em casa. Medo de ir ao quintal, de receber o entregador de água, medo de abrir as portas e janelas de casa, medo de vestir uma roupa mais curta, mais decotada…Enfim, medo, medo, medo… Medo de simplesmente viver.

Muitos podem até achar exagero, mas esse medo é sem dúvida uma das nossas angústias. A violência velada e a cultura do estupro são coisas que assombram. Nos fazem refletir que ninguém está livre e qualquer uma de nós pode ser a próxima vítima. É inegável a sororidade que é vista entre nós e todo o trabalho da rede de proteção à mulher. Seja sobre ajudar a mulher a escapar dos perigos e da sensação de insegurança, ou até nas políticas de acompanhamento e atendimento às mulheres.

Cada vez mais as mulheres estão fortalecidas e a pauta da violência tem visibilidade. Tem muita gente trabalhando e atuando fortemente para que os números de vítimas não aumentem e que as mulheres possam resistir e continuar esse movimento de mudança.

Mas, esse texto é o reflexo do meu incômodo sobre essa realidade do medo. De saber que ainda passo por tudo isso todos os dias. De pensar se vou chegar bem ao trabalho, se vou chegar bem em casa, de pensar se até mesmo vou chegar ao dia de amanhã.

Como jornalista, na rapidez de divulgar as informações e nas páginas frias do noticiário policial nos deparamos com tantas outras mulheres que não chegaram ao dia de amanhã.

Mulheres que tiveram seus sonhos interrompidos pela crueldade e pela violência, por relacionamentos abusivos e somente por serem mulheres. Neste dia 8 de março, e todos os outros dias, precisamos falar mais sobre isso. Parar de aumentar todos esses índices sangrentos de mortes relacionadas à violência contra a mulher.

Precisamos falar que a cada hora no Brasil, mais de 500 mulheres são vítimas de violência. O tempo corre e temos pressa. Queremos permanecer vivas.
 

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