Rachel Pinto
Com certeza quem anda por Feira de Santana, especialmente pelas ruas do centro comercial, alguma vez já viu ou foi parado por “Caculé”. O paraibano José Pergentino da Silva, de 66 anos, morador do bairro Queimadinha e vendedor de utensílios domésticos.
Foto: Rachel Pinto/Acorda Cidade
A conversa de Caculé é tanta, que por algum momento chega até a ser incompreensível. E em alguns minutos de bate-papo ele dispara informações sobre todos os assuntos. Caculé sabe sobre história, cultura e todo o noticiário de jornal. Mas, o que ele mais gosta mesmo é de falar sobre política, Feira de Santana e fazer suas adivinhações.
“Eu cheguei em Feira com dez anos. Eu gosto muito desse lugar. É uma cidade muito boa, mas a maioria do povo não vale nada. Só se preocupa em roubar e fazer mal ao próximo”, alerta Caculé.
Com tanto assunto, ele até esquece de vender os seus produtos, que leva amarrados e pendurados no próprio corpo. O carrego é pesado. Tem bacia, vasilhas plásticas de todos os tamanhos, peneiras de todas as cores, além de colher de pau. Sobre os preços, ele conta que é tudo baratinho e o valor é único. “Custa cinco conto cada uma”, completa.
Apesar de conhecer muita gente, Caculé diz que vender fiado é mais difícil. Tudo depende de quem é o cliente.
Adivinhações e o “pó de tabaco”
Entre tantas histórias, Caculé tira da capanga de couro um vasinho pequeno com um pó preto e começa a cheirar e a espirrar. Eu pergunto: O que é isto Caculé? Ele logo responde: “É ‘tabaco’, vou mandar um desse pra Dilton Coutinho”, diz.
Para quem não conhece, o ‘tabaco’ ou rapé é um produto medicinal muito utilizado pelas pessoas mais antigas que acreditam que ele é bom pra doenças das vias respiratórias. É feito de tabaco e uma mistura de outras plantas, ervas e ingredientes medicinais.
Médium de nascença
Sobre as adivinhações que faz sobre a vida das pessoas, Caculé explica que são orientações dos espíritos e que ele é médium de nascença. Há quem diga que ele diz sempre a mesma coisa de todo mundo, principalmente que a sua bisavó era índia e que você é uma pessoa muito desconfiada.
Foto: Rachel Pinto/Acorda Cidade
No entanto, no meu caso, foi um pouco diferente: “Sua bisavó era índia e o primeiro homem que sua mãe namorou e casou foi seu pai. Você não tem maldade em nada, mas seu mal é confiar nas amigas. Na sua casa a pessoa mais inteligente é você”, e ele emenda e me pergunta:” Você acredita?”. Eu repondo:” Sim, acredito Caculé”. Então assim é dado por encerrado o assunto adivinhação e vamos para o próximo tópico da nossa entrevista.
Política
Falamos então sobre política, o assunto preferido de Caculé, e ele novamente dispara de informações sobre corrupção, operações da Polícia Federal e as eleições 2018.
Sobre o cenário político municipal, Caculé avalia a gestão do prefeito José Ronaldo. Para ele, o prefeito tem feito uma boa gestão. No entanto, ele não acredita que José Ronaldo irá para o senado e aposta em Colbert Martins para ser o próximo prefeito de Feira.
“A política, Zé Ronaldo quer sair pro Senado, mas eu não sei se ele vai não. Porque eu acho que aqui ele não tem voto para Senado não. Agora pra deputado ele ganha. “Colbertzinho”, futuramente, vai ser o prefeito da Feira, agora ele não é como o pai”, opina.
Ainda sobre política, Caculé também aposta em Lula para presidente em 2018. Na opinião dele, Lula fez muita coisa para o povo. “Eu voto nele e talvez ele vá ganhar de novo. O povo quer ele de volta”, afirma.
Patrimônio de Feira
Nos últimos tempos, o visual de Caculé também está um pouco diferente. Debaixo do seu tradicional chapéu de couro estão os cabelos grisalhos bem maiores do que o habitual. Eu procuro logo saber: “Tá criando cabelo é Caculé?” E ele responde sem cerimônia: “ Estou, vou deixar crescer para vender”, salienta.
Entre tantas curiosidades e relatos engraçados, a simplicidade de Caculé e suas marcas da idade e da vida deixam transparecer a sua identidade de trabalhador, de gente que acorda cedo todos os dias e que caminha pela cidade, levando Feira de Santana no coração, bons sentimentos e muito bom humor.
Caculé é gente que escolheu Feira de Santana para viver, trabalhar e é também parte do nosso patrimônio histórico e cultural.