Artigo

Dormir com o inimigo

Povos antigos consideravam a vingança como o prazer mais refinado.

O Escritor S. Covey afirma que muitas pessoas tem o costume de “dormir com o inimigo”. Significa: levar para dormir conosco em nosso coração, em nossa mente uma pessoa que nos fez mal, que nos difamou e que nos agrediu de forma física ou moral.

Infelizmente, essa é uma verdade. Tantas vezes carregamos o “inimigo” não apenas para a cama, mas também ao cinema, ao restaurante, às férias e mesmo à Igreja. Levamos em nosso coração e mente algo ou alguém que não está presente fisicamente, mas que continua a nos fazer mal.

Povos antigos consideravam a vingança como o prazer mais refinado. Aniquilar, humilhar, tornar impotente o inimigo era a suprema satisfação. E a vingança, avaliavam eles, para ser compensadora, devia ser maior que a ofensa. O mal era respondido com um mal maior e o vencido sonhava com o dia da vingança. Era a teoria do olho por olho, dente por dente. Mas, a resposta sempre tendia a ser maior e assim surgia o infernal círculo vicioso da violência.

A maturidade de uma pessoa se mede a partir de seu modo de agir diante das adversidades. A pessoa madura continua agindo da sua maneira, enquanto a imatura reage. É assim que começam as disputas familiares, as crises sociais, os conflitos religiosos e as guerras. Pagar o bem com o mal é diabólico, pagar o mal com o mal é humano, mas pagar o mal com o bem é divino. Se pagamos o mal com o bem, estaremos figurando entre os discípulos do Mestre.

O evangelho ensina o segredo de uma vingança perfeita: o perdão. E não se limita a uma única vez. Jesus pede que perdoemos setenta vezes sete. E isso não é suficiente: além de perdoar, somos desafiados a amar o inimigo. E quando fazemos isso, a paz infinita descerá sobre nós. Perdoar é a maior recompensa que podemos dar a nós mesmos. A mágoa, mais que ao inimigo, prejudica a nós mesmos. . O perdão cura, alivia e salva.

A caminhada do perdão, que acontece no próximo domingo (12), quer nos ajudar a refletir essas verdades e provocar em nós uma mudança de vida em relação a nós mesmos, nossa família, nossas atividades ao meio ambiente e com Deus. Se Deus, que é Deus perdoa sempre, quem somos nós para não perdoar o irmão por mais grave que seja a ofensa? E perdoando recebemos em troca saúde, alegria, paz, felicidade e o céu.

Dom Itamar Vian
Arcebispo Emérito
[email protected]
 

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