Laiane Cruz
O coordenador da 1ª Coordenadoria Regional do Interior (Coorpin), delegado João Rodrigo Uzzum, foi o convidado do quadro ‘Sala do Povo’, do programa Acorda Cidade, na manhã desta quarta-feira (17). Há 13 anos atuando na cidade, Uzzum já foi titular da Delegacia de Tóxicos e Entorpecentes (DTE), trabalhou nas Delegacias de Repressão a Furtos e Roubos de Cargas de Feira de Santana (Decarga), de Homicídios, durante um ano, na condição de adjunto, além de ter atuado nas delegacias regionais de Itaberaba, Salvador e Condeúba, na região de Vitória da Conquista.
Durante a entrevista, o delegado falou sobre a estrutura e o trabalho da Polícia Civil em Feira de Santana e região, a elucidação de crimes e o aumento da criminalidade, como latrocínios (roubos seguidos de mortes), além de projetos de melhoria das ações que estão em andamento. Confira na íntegra:
Acorda Cidade – Como é a estrutura da Polícia Civil em Feira?
João Uzzum – Hoje a Polícia Civil em Feira, do interior da Bahia, nós temos a melhor estrutura, a maior quantidade de delegacias especializadas, temos um efetivo razoável de policiais, comparado a outras cidades do interior do mesmo porte, nós temos uma estrutura tanto de efetivo, como física, de veículos, bem melhor que as outras cidades, para atender a demanda. Nós temos hoje em torno de 30 delegados. Temos 120 investigadores e escrivães, que atendem dentro de uma razoabilidade, é necessário um aumento, as especializadas precisam de mais policiais, mas a gente pode dizer que atende a demanda.
Acorda Cidade – O presidente do sindicato dos peritos técnicos do estado da Bahia, Marcel Engrácio, disse que na Bahia o índice de elucidação chega somente a 6%. O senhor concorda com ele?
João Uzzum – Eu discordo. Eu não sei se essa estatística é a nível estadual ou local. Eu garanto que a nível local o índice de elucidação é muito superior 6%, e a gente tem analisar todo o contexto que ocorre os homicídios no nosso país. Evidentemente que a questão pericial é importante na elucidação de qualquer crime. O Departamento de Polícia Técnica é necessário ser estruturado, mas a questão dos homicídios, você tem um composto muito complicado, quando se tem pessoas que se expõem e estão inseridas no meio de violência. Então nesse meio é extremamente difícil se elucidar esses crimes. Tem pessoas que estão envolvidas com tráfico de entorpecente, num lugar onde não se tem pessoas que se candidatam como testemunhas, pois impera a política da vingança. E o trabalho de inteligência é extremamente difícil, e às vezes até impossível de ser realizado. Então a gente observa que o trabalho que a polícia faz nesses ambientes é proveito para a sociedade.
Acorda Cidade – Então a dificuldade que a polícia enfrenta é relacionada aos crimes por tráfico de drogas?
João Uzzum – Esse é o maior mau que hoje toda a sociedade brasileira tem enfrentado: o aumento do consumo do tráfico de drogas, a questão de que jovens acabam se dedicando e transformando a profissão de traficante numa verdadeira opção de vida. Esse é um fato que tem que ser encarado. É uma mudança social que é a longo prazo e que tem um relacionamento direto com a questão da Educação. A polícia é um dos pilares de diminuição da criminalidade, mas não é o único.
Acorda Cidade – Porque Feira de Santana tem um alto índice de violência, homicídios e muitos assaltos a transeuntes?
João Uzzum – Nós tivemos um aumento no número de latrocínios, que é o roubo seguido de morte. No entanto, em números absolutos, o número não chega a tornar preocupante se transitar pela cidade. Desses latrocínios que ocorreram, o índice de elucidação ultrapassou os 90%. Ano passado nós tivemos um índice baixo de latrocínios; de homicídios também foi extremamente baixo no ano passado, e isso impacta quando tem um ligeiro aumento. Quando a gente compara com outras cidades, a gente vê que Feira de Santana, em termos de latrocínio não é tão alto. Evidentemente, o índice de homicídios é alto, e o tráfico de drogas é o grande motivador.
Acorda Cidade – E quanto aos roubos de celulares, as pessoas registram essas queixas?
João Uzzum – Muitas pessoas acabam não registrando. Isso traz uma série de consequências, porque as pessoas não querem perder tempo ou não acreditam que possam trazer qualquer benefício fazer o registro. Mas eu alerto que elas estão erradas, porque no momento que se faz o registro, até pela internet, você está municiando a polícia de dados estatísticos importantes. Somente com as ocorrências registradas vamos saber qual é a região que está tendo um aumento de criminalidade. Então esses dados são passados para a polícia militar para que eles planejem suas ações de policiamento ostensivo e a polícia civil para planejar suas ações judiciárias. O registro pode ser feito pela internet, no site da Polícia Civil, e também temos dois plantões na delegacia. Você pode fazer 24 horas esse registro ou um final de semana, e se a pessoa conseguir se planejar para ir em um horário sem ser de pico, será muito melhor atendido. Qualquer reclamação a gente apura.
Acorda Cidade – Quando um crime é considerado elucidado pela polícia?
João Uzzum – Quando ocorre um homicídio nasce para o estado a necessidade de investigar aquele crime. A polícia judiciária passa a desenvolver os seus trabalhos. Nós produzimos um documento chamado inquérito policial, que quando é concluído nós vamos indiciar ou não pessoas. Para a polícia, crime elucidado é aquele que resulta em indiciados. Esse é o parâmetro, estando a pessoa presa ou não. Existem diversos delitos no nosso código penal e muitas vezes a prisão não é a solução adequada naquele instante. Às vezes, com o indivíduo não ocorreu o flagrante e não existem os elementos para se decretar uma prisão preventiva. A polícia tem que agir de maneira técnica, mas a sensação de impunidade muitas vezes ocorre pela demora do julgamento. É uma questão estrutural.
Acorda Cidade – O aumento da criminalidade ocorreu com a impunidade?
João Uzzum – A impunidade, na minha concepção, é um fator muito importante no aumento da criminalidade. Já está na hora da sociedade brasileira pensar mecanismos mais eficazes de punição e até outras maneiras de se diminuir essa sensação de impunidade.
Acorda Cidade – Quando será reinstalado um posto da Polícia Civil no Hospital Geral Clériston Andrade?
João Uzzum – Nós já fizemos um projeto, em parceria com o diretor do Clériston, doutor Pitangueira, que também viu a necessidade desse posto. Já encaminhamos e nosso delegado geral assinou positivamente a instalação desse posto. O próprio secretário de Segurança Pública disse em reunião que tem a intenção de montar, e ele é essencial porque hoje o hospital regional atende 40 municípios, uma população que ultrapassa 3 milhões de habitantes, então vai beneficiar não só Feira, mas toda uma região. Nós temos lá muitos indivíduos que ingressam com mandado de prisão em aberto, muitas situações em que é necessário uma investigação preliminar, e também temos uma subnotificação de delitos em razão de não ter um posto da Polícia Civil lá. Muitas pessoas são vítimas de tentativa de homicídio, praticam roubos e dão entrada lá se dizendo vítimas, então é necessário ter. Nós estamos nesse empenho e esperamos que com o concurso, nós consigamos montar esse posto.
Acorda Cidade – A operação Visão Noturna deixou de existir?
João Uzzum – Nós estamos numa fase de adaptação de novos procedimentos e nesse instante tivemos que retirar a operação. Temos que priorizar dentro das nossas condições outros atendimentos como o plantão regional, o plantão central, mas assim que houver uma folga orçamentária vai retornar a Visão Noturna.
Acorda Cidade – Há várias reclamações sobre o plantão na Delegacia da Mulher. Não tem o plantão nos finais de semana?
João Uzzum – Hoje a Delegacia da Mulher é extremamente estruturada no tocante a outras delegacias no interior do estado. Temos uma delegada titular das melhores, capacitada, técnica, e uma equipe muito boa. O atendimento à mulher fora do horário do expediente é realizado tanto pelo plantão central no Sobradinho, que também tem delegadas mulheres e escrivãs mulheres, e também pelo plantão regional quando o crime tem relação com as cidades que compõem a nossa região. No entanto, é uma solicitação das mulheres que exista um plantão lá. Evidentemente que tendo um plantão específico vai ter um atendimento mais especializado e melhor. Na última reunião que eu tive com o nosso delegado geral ele informou que tem esse objetivo de ter um plantão lá. Já solicitei a doutora Clécia Vasconcelos um estudo das ocorrências, registradas fora do horário do expediente, para que possamos dar condições técnicas de decisão ao nosso delegado geral. Eu creio que vamos ter uma melhora na estrutura da mulher sim.
Acorda Cidade – Porque a Delegacia de Homicídios não é junto com o Departamento de Polícia Técnica?
João Uzzum – Não só junto com a Polícia Técnica, mas também de Tóxicos e Entorpecentes, que tem uma relação estreita. Nós temos esse objetivo de instalar a Delegacia de Homicídios futuramente no espaço no Jomafa, onde ficaria ao lado do DPT e da DTE. Nós agora não temos condições para fazer isso, mas nós já temos a visão desse problema e pretendemos que no futuro isso ocorra.
Acorda Cidade – Até que ponto a crise tem afetado o funcionamento das delegacias em Feira de Santana?
João Uzzum – Em Feira, nesse aspecto, está tudo tranquilo.